segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Redes sociais ao serviço de quem?

O advento das redes socias, pela sua intensidade e rapidez, tornou-se num motivo de elaboração de teses, de debates alargados e do desenvolvimento de toda uma indústria que se sustenta a partir das mesmas. Para compreender os seus benefícios e malefícios, em toda a sua amplitude, serão precisos mais alguns anos de avaliação e de amadurecimento deste verdadeiro fenómeno do novo século.

A informação que se tornou disponível a partir, por exemplo, do Facebook, contribui decisivamente para a actividade de muitas empresas e também do Estado, designadamente para os serviços secretos.

Uma campanha de sensibilização realizada em Bruxelas demonstra bem os perigos que as redes socias podem representar para cada um de nós. Nesta cidade, foi montada uma tenda numa praça, onde um vidente convidava as pessoas a entrar para mostrar como era capaz de saber tudo sobre as suas vidas. Sentados frente a frente, cada uma das pessoas ficava aterrada com o facto de aquele senhor ser capaz de desvendar tudo sobre elas. Exactamente no momento em que cada um dos convidados olhava incrédulo para aquele senhor que parecia possuir poderes sobrenaturais, caía uma cortina que escondia quatro hackers ao computador a desvendar tudo quanto era possível. Moral da história: tenha cuidado com a informação que coloca na internet. Este vídeo pode ser visto no Youtube, bastando escrever “vidente advinha com base nas redes sociais”.

Actualmente, muitos correctores analisam com modelos matemáticos a informação exposta nestas redes, o que lhes permite compreender as tendências gerais e, assim, exponenciar os respectivos lucros. Segundo a IBM, a utilização em massa do Google, Facebook, Twitter, entre outros serviços on-line, gera 2,5 milhões de terabytes por dia, o que constitui um volume de informação impossível de conceber. Ao passo que o nosso cérebro é incapaz de traduzir grandes quantidades de informação, o progresso da informática permite que determinados computadores possam traduzir as tendências dominantes a vários níveis, desde os gostos musicais aos hábitos alimentares, passando pelas eleições. A campanha de Obama, por exemplo, averiguava continuamente as reacções nas redes sociais a cada palavra do presidente, procurando perceber o que o presidente deveria ou não dizer.

Especialistas de todas as áreas, desde sociólogos a informáticos, procuram beneficiar deste volume de informação. No entanto, é no sector financeiro, onde a informação é vital, que se consegue tirar maior proveito. Há cinco anos atrás, apenas 2% dos fundos de investimento analisavam as mensagens no Twitter para a sua tomada de decisão, ao passo que, actualmente, este valor já chega aos 50%!

Este autêntico fenómeno levanta um conjunto de questões, designadamente legais, uma vez que a legislação está atrasada em relação à evolução tecnológica. Veja-se o que aconteceu nos EUA, onde um conjunto de activistas apresentou uma queixa contra o Estado devido a um programa governamental que, pretendendo detectar riscos para a segurança nacional, vigiava as redes socias.

Outra das ameaças relaciona-se com a manipulação. Bastará bombardear uma qualquer rede social com spams, onde seja defendida uma determinada opinião sobre uma empresa, para, artificialmente, passar uma ideia de optimismo sobre a mesma ou, pelo contrário, manchar a sua reputação.

Em suma, cresce a preocupação com as consequências a longo prazo do funcionamento das redes socias. O próprio Tim Berners-Lee, que inventou a World Wide Web (rede mundial www), está muito preocupado com a exploração abusiva dos dados pessoais a partir das redes sociais. O melhor mesmo é seguir o seu conselho: muito cuidado com o que se coloca na rede.

Pessoalmente, lá vou sobrevivendo na pré-História, uma vez que continuo a não ter conta no Facebook nem no Twitter. Provavelmente, Tim Berners-Lee diria que não será preciso ir tão longe...

Publicado no jornal online ptjornal, em 02/12/2012

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