sexta-feira, 15 de abril de 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Guerra a Kadhafi ou Guerra pelo petróleo?

Mais uma intervenção da NATO, agora na Líbia. As razões para intervir ao lado dos rebeldes contra o ditador sanguinário parecem perfeitamente compreensíveis. Afinal, como se poderá criticar uma intervenção que visa pôr termo a uma ditadura que não olha a meios para se manter no poder? Como se poderá criticar o apoio dado aos líbios que se insurgem contra o seu opressor? Certamente, todos torcemos pelo fim deste tipo de regimes.
A questão verdadeiramente critica desta intervenção reside nas suas motivações. Motivações que não se coadunam com aquelas pelas quais estaríamos dispostos a apoiar a 100% uma intervenção deste tipo. A razão desta afirmação está no resultado de um exercício intelectual de grande simplicidade. Se este tipo de intervenções militares se justificam para impedir o sofrimento de populações às mãos dos tiranos que as subjugam, não seria lógico começar por derrubar os regimes mais repressivos? Se o objectivo é evitar o sofrimento profundo de populações espezinhadas por um poder politico carniceiro, não seria lógico intervir contra os maiores carniceiros? Não seria lógico começar por se intervir nos países onde se alastra um sofrimento mais pesado e desesperado? Era o regime de Saddam Hussein o mais opressor dos regimes aquando da intervenção? É o regime do Coronel Kadhafi o mais opressor dos regimes da actualidade? Está claro que não... Omar al-Bashir (Sudão), Than Shwe (Mianmar) e o rei Abdullah (Arábia Saudita) conseguem no que se refere ao desrespeito pelos direitos humanos, superar qualquer um dos dois.
O facto de na Líbia existir uma reacção interna que se opõe militarmente é um sinal da fraqueza de Kadhafi. Apoiar essa reacção pode ser visto como uma oportunidade, mas ignorar o sofrimento de povos controlados por um aparelho politico-militar tão poderoso e sufocante que impede a formação de qualquer insurreição é cobardia. Para além disto, ninguém sabe quem poderá substituir o Coronel, nem as propostas de governação defendidas pelos rebeldes. Ora, a História está repleta de exemplos de regimes opressores substituídos por regimes ainda mais opressores, mostrando que é imprudente apoiar movimentos armados que não se conhecem bem. Aliás, face aos graves erros que cometeram neste capítulo, é incompreensível que os EUA não adoptem uma posição mais prudente.
Mas pior do que a cobardia é a hipocrisia. E a hipocrisia está na constatação de que tanto o Iraque como a Líbia repousam sobre uma manto de crude. Só espero que o povo líbio não tenha o mesmo destino que o povo iraquiano: um regime pseudo-democrático manietado pelos EUA aliado a uma coesão nacional inexistente.