sexta-feira, 15 de junho de 2012

Da Europa à Grécia, vemo-nos gregos


A grande maioria da população grega quer a permanência na Zona Euro. Na União Europeia, os governos que se pronunciaram sobre esta questão e a Comissão Barroso defendem a permanência da Grécia na Zona Euro. E mesmo o Syrisa, partido à esquerda do Pasok e forte candidato à vitória das eleições do dia 17 de Junho, defende a permanência da Grécia na zona euro. A questão, claro está, centra-se na escolha do melhor projecto para que essa permanência se concretize. E se quiséssemos analisar esta questão a fundo, teríamos que alargar o espectro da discussão para o funcionamento do Banco Central Europeu.

A criação do euro à imagem e semelhança do marco alemão levantou muitos problemas relacionados com a capacidade de países com moedas mais fracas, como Portugal e Grécia, se adaptarem a esta nova moeda. Alguns economistas cedo apontaram para estes problemas, cujo melhor exemplo em Portugal é João Ferreira do Amaral.

Ao constatarmos uma taxa de desemprego jovem superior a 40 % nalguns países da Zona Euro, rapidamente compreendemos que a resposta europeia à crise não tem surtido efeito, não descurando as responsabilidades que os governos e bancos destes países têm perante este cenário. Face a esta situação, alguns cidadãos gregos, designadamente da cidade de Volos, recorrem a uma solução ancestral: a criação de uma moeda que funciona como um cheque pessoal, reconhecida por um conjunto de cidadãos que depositam uma forte confiança entre si. A principal vantagem deste sistema reside no fortalecimento das trocas entre pessoas de baixos rendimentos.


Assentando num modelo distinto do que estes cidadãos gregos praticam, o Deutsche Bank, o banco privado alemão mais poderoso, propôs a introdução de uma moeda paralela na Grécia no caso de os adversários das medidas de austeridade ganharem as eleições legislativas. Esta proposta assenta na emissão de títulos de dívida pública helénicos, que poderão ser vendidos nos mercados de capitais. O pretendido é, por um lado, garantir a continuação dos apoios financeiros internacionais para que a Grécia possa pagar as suas dívidas, e, por outro, possibilitar às autoridades gregas desvalorizarem a sua própria moeda sem ser necessário abandonar o Euro.

Inicialmente, segundo os estudos do Deutsche Bank, o “Geuro”, nome sugerido para esta moeda, sofreria uma forte desvalorização em relação ao Euro, apesar de o governo grego ter a possibilidade de apreciar a sua nova moeda através de uma política de austeridade orçamental.


Em suma, alargam-se os horizontes em relação ao debate sobre o que fazer perante a tragédia grega. Mas se a cultura europeia se iniciou na Grécia e se difundiu por toda a Europa através dos Romanos, a tragédia grega pode também difundir-se por toda a Europa através da consagrada incompetência dos líderes europeus. A questão já ultrapassa o razoável – uma coisa é adoptar uma política de refreamento do consumo e de estímulo da poupança, outra é adoptar políticas draconianas cujos resultados estão ao alcance de uma elementar cultura histórica.


Publicado no Jornal online "Letra1", em 11/06/2012

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