segunda-feira, 25 de junho de 2012

Competitividade – A palavra que dá para tudo


A questão da competitividade é muitas vezes abordada de forma simplista e leviana. Em Portugal e, provavelmente, em todos os países, é afirmado de forma recorrente a necessidade de melhorar os índices de competitividade. Porém, esta questão é constantemente aproveitada para defender retrocessos nos direitos laborais, entre outras reivindicações de teor reaccionário. Os factores que contribuem para a competitividade são muitos e variados e dependem das características de cada país, uma vez que cada um tem a sua geografia, história, recursos e cultura. David Ricardo, histórico economista luso descendente, desenvolveu a famosa teoria das vantagens comparativas, onde cada país teria que, numa economia internacional aberta, desenvolver as suas potencialidades e pontos fortes por forma a garantir mercados onde possa ser altamente competitivo. Apesar do passar dos tempos e do desenvolvimento teórico das ideias de David Ricardo, vemos nos dias que correm inúmeras intervenções públicas no sentido de Portugal se tornar mais competitivo em relação ao exterior.

Exige-se um amplo debate nacional no sentido de seleccionar os sectores para os quais a economia portuguesa deve estar apontada, sem cair no “erro islandês” de pôr todos os ovos no mesmo cesto. Ouvimos falar muito do mar, uma vez que Portugal goza de um grande território marítimo, infelizmente mal aproveitado. Mas não parece haver incentivos que contribuam para que a iniciativa privada possa investir nas inúmeras actividades marítimas, uma vez que este tipo de investimento exige uma grande capacidade de financiamento.

Ora, o financiamento às empresas, em qualquer das actividades em que actuem, é um dos grandes obstáculos que os empresários portugueses enfrentam. Dificilmente conseguem competir com empresas de outros países quando estas têm ao seu dispor maior e melhor financiamento – falar de financiamento às empresas não pode significar endividamento de empresas para cobrir custos correntes mas sim para investir.

Outro grande obstáculo que as empresas portuguesas enfrentam está no funcionamento da justiça. É uma questão complexa, onde qualquer análise simplista dificilmente escapará à demagogia.

Felizmente, ao que parece, o nosso sistema tributário tem melhorado, apesar de continuar complicado para as empresas, principalmente para as PME´s. Espera-se, relativamente a esta matéria, que o relacionamento entre a administração fiscal e as empresas se possa tornar mais transparente.

Quanto ao debate sobre os sectores para onde a economia portuguesa se deve virar, ficar-nos-emos, provavelmente, por debates televisivos cujo tempo não permite passar das afirmações banais e das menções a lugares comuns. Quanto às conferências, são cada vez mais espaços de concordância formal e menos de dialéctica. Assim, numa era onde proliferam as plataformas comunicacionais, parece ser impossível estabelecer um debate profundo entre diferente visões e projectos para Portugal, cujo futuro continuará a alimentar-se em cadeias de fast-food.

Num país onde graça o desemprego, onde quem quer trabalhar não tem oportunidades, onde as boas qualificações da sua juventude não são aproveitadas, onde os emigrantes fazem sucesso lá fora porque são trabalhadores aplicados e, finalmente, onde o salário médio é dos mais baixos da união Europeia (assim como o salário mínimo), dever-se-ia “ostracizar” quem estabelece uma relação de causa-efeito entre a remuneração do trabalho e a falta de competitividade. Antes ouvir um contador de histórias da taberna portuguesa, que um vendedor de banha da cobra de colarinho branco.

Publicado no jornal online "Letra1", em 22/06/2012

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