terça-feira, 24 de abril de 2012

Voz inconfundível do fadista Alfredo Marceneiro, letra magistral do poeta Carlos Conde



Ser pequenino


Que bom que é ser pequenino,

Ter pai, ter mãe, ter avós,

Ter esp’rança no destino

E ter quem goste de nós.


A velhice trás revés,

Mas depois da meninice

Há quem adore a velhice

P’ra ser menino outra vez.

Ser menino, que altivez

De optimismo e desatino!

Ver tudo bom e divino,

Tudo esperança, tudo fé,

Enquanto a vida assim é

Que bom que é ser pequenino!...


Ver tudo com alegria,

Sem delongas, sem demora,

Ver a vida numa hora

Ter na mente a fantasia

Dum bem que ninguém supôs,

Ter crença, sonhar a sós,

Co’ a grandeza deste mundo

E, para bem mais profundo,

Ter pai, ter mãe, ter avós.


Ter muito enlevo a sonhar,

Acordar e ter carinho,

Ter este mundo inteirinho

No brilho do nosso olhar.

Viver alheio ao penar

Deste orbe torpe, ferino,

Julgar-se eterno menino,

Supor-se eterna criança,

E, num destino sem esp’rança,

Ter esp’rança no destino.


Ó desventura, ó saudade,

Causas da minha inconstância,

Daí - e pedaços de infância,

Retalhos de mocidade.

Dai-me a doce claridade

Roubando-me ao tempo atroz

Quero ter a minha voz

P’ra cantar o meu passado...

É tão bom cantar o fado

E ter quem goste de nós!...

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