terça-feira, 20 de março de 2012

Em busca do conceito


Às voltas sobre si mesmo. Horas, muitas horas no mesmo movimento que o chão que pisa.
A barba começa por crescer, devagarinho. Mas logo ali, momentos depois, uma nuvem de espesso nevoeiro branco assenta sobre as suas, então, longas barbas. O movimento, esse, é o mesmo. Às voltas, às voltas, às voltas, por vezes tonto perante uma vida que se precipita, por vezes esmagado, imobilizado, perante a possibilidade de uma verdade que o atormenta.
Roda sobre si, como uma chave na fechadura, à espera de encontrar a verdade no outro lado de lá. Gira, gira, gira tal como a terra, perpétuo movimento da beleza da vida.
Depois, de repente, pára! Pelo menos, pára para aquilo que a minha visão consegue ver, que o meu tacto consegue sentir, que o meu nariz consegue cheirar, que os meus ouvidos conseguem ouvir. Terá aberto a porta? Terá atravessado alguma fronteira imaterial? Enquanto seres terrestres, nunca o saberemos.
     O que sabemos é que nos definimos como seres em busca. Em busca da satisfação de necessidades básicas à semelhança dos nossos companheiros terrestres e em busca do nosso conceito, a particularidade que nos diferencia. Sabemos também que haverá sempre uma parte do nosso conceito por descobrir e, por isso, continuaremos a rodar à volta na fechadura até ao momento da nossa morte.
Cada um, cada conceito. Porém, realce-se uma questão fundamental: parte de todos os conceitos é comum, igual em si mesma, caso contrário a condição humana não existiria. Assim sendo, o sucesso para uma melhor compreensão do nosso conceito está dependente da socialização, somos um animal gregário porque precisamos uns dos outros, não só para sobreviver mas também para compreendermos melhor o nosso próprio conceito, para que nos realizemos.
Quanto mais integrada for uma sociedade, mais integrado se sentirá cada indivíduo com o espaço que o rodeia. Desta forma, ao reconhecer-se na sociedade, o indivíduo poderá conhecer melhor o seu próprio conceito.
Uma sociedade pautada por desigualdades sociais, é uma sociedade de fortalezas físicas e psicológicas, na qual o indivíduo não se reconhecerá. Um indivíduo que não se reconhece na sociedade que integra não pode exercer a sua cidadania. Um indivíduo que não pode exercer a sua cidadania é um indivíduo alienado daquilo que são os seus direitos e os seus deveres. Por fim, um indivíduo alienado é um indivíduo que está mais longe do respectivo conceito.
Ninguém se pode conhecer sem os outros, pois é com eles que nos experimentamos.
Uma sociedade que aposta na aproximação através do culto da tolerância das diferentes expressões do homem, é uma sociedade que promove a realização de cada ser pensante.
A sociedade em que vivemos, longe de ser um inferno, com expressões humanísticas relevantes, exagera no “fast-food”. Reduz o debate sobre a sua (super) complexa organização a cálculos de um conjunto de economistas e decide através dos cálculos de um grupo restrito do conjunto de economistas. Se o dinheiro é quem mais ordena, e se o tempo é dinheiro, não haverá tempo para debater seriamente a organização da nossa sociedade. Enquanto o dinheiro continuar a ser quem mais ordena, continuaremos entregues ao “fast-food”. 

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