sábado, 2 de março de 2013

Salve-se quem puder

Enquanto uns senhores andavam por aí, após o anúncio do regresso aos mercados, a lançar fogo-de-artifício pelas calçadas da miséria em que se tornaram as nossas cidades, lia, através do Observatório da Emigração, que, num pequeno país como o nosso, emigram, todos os anos, cerca de 120 mil pessoas. Este número, que se tem verificado nos últimos anos, só não é maior porque as oportunidades no estrangeiro não proliferam.

De facto, custa ver os tsunamis que por aqui passam, arrastando consigo muitos milhares de compatriotas para além fronteiras. Uns param no centro da Europa, outros na África meridional e outros há que só param no outro lado de lá, junto dos simpáticos cangurus. É com cada tsunami que nem dá para acreditar – já estive mais longe de construir um bunker para me manter a salvo.

Estou convencido que, considerando os efeitos pós-traumáticos que resultam destas tragédias, devemos continuar a evitar tocar neste assunto. O facto de estes tsunamis fazerem lembrar aqueles que por cá passaram na década de sessenta não deve merecer demasiada atenção. É demasiado doloroso pensar que, passado meio século, continuamos a viver num Portugal onde não cabem todos os portugueses.

De qualquer das formas, não podemos ser piegas. Temos que ser valentes. Afinal de contas – como disse Pedro −, “emigrar não pode ser um estigma”. Ah! Já me sinto muito melhor com estas palavras.

Viver no estrangeiro é uma experiência muito gratificante – sim, não podemos ser piegas –, mesmo quando não tenha sido por opção. Isto não tem nada que saber no que se refere à gestão de pessoal: se há trabalhadores a mais, eles que emigrem. Família que fica para trás? Isso resolve-se com uma visita no Verão. Família por construir? Isso, com o avanço da medicina, trata-se aos quarenta. Idosos a mais? Citando o ministro das finanças japonês, Taro Aso, que se os deixe “morrer rapidamente”.

Aí está a doutrina Hayekiana solidamente implementada. Da importância do indivíduo à ideia de que − como dizia Margaret Thatcher − "não existe essa coisa de sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos", vai o suficiente para que se grite a bordo, “salve-se quem puder”!


Publicado no ptjornal, em 27/01/2013

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