quarta-feira, 13 de março de 2013

Mar da China: um mar de interesses e de conflitos















Os problemas económicos e financeiros, devido à especial dimensão que atingiram na Europa, têm merecido grande parte da nossa atenção. No entanto, é sempre importante olharmos para outras zonas do globo e saber o que por lá se vai passando, não vá, um dia, o imprevisto bater-nos à porta.

O mar da China meridional é, seguramente, uma dessas zonas para as quais devemos olhar. Rico em recursos haliêuticos e em jazidas de hidrocarbonetos, este mar deve a sua enorme relevância ao facto de albergar algumas das principais rotas marítimas internacionais, o que leva a um confronto de interesses entre diversas potências, principalmente entre a China, os EUA, o Vietname e as Filipinas.

Alguns governos das regiões costeiras chinesas, como Hainan, procurando favorecer as suas empresas, desenvolvem uma política de influência e de ocupação do mar da China meridional, chegando mesmo a incentivar os seus pescadores a avançarem até às zonas de conflito e a equipar os seus navios com sistemas de navegação por satélite, o que permite às autoridades chinesas actuarem mais rapidamente em caso de confronto. De facto, os barcos de pesca têm servido como uma peça importante da estratégia de influência traçada pela China.

No entanto, a partir de Abril de 2012, as tensões entre os interesses de diversos países no mar da China meridional assumiram um carácter mais beligerante. A disputa do Recife Scarborough, entre a China e as Filipinas, culminou com a imposição do mais forte: a China assumiu o controlo deste recife e impediu os filipinos de pescar naquela zona.

O clima ficou ainda mais cinzento no momento em que a China e o Vietname tiveram um despique entre si. Após o governo vietnamita ter implementado novas regras de navegação nas águas dos arquipélagos Spratleys e Paracels, Pequim respondeu através do estabelecimento de um quartel militar nesta região, paralelamente a medidas de restrição económica, mostrando que não facilitará no que concerne à defesa dos seus interesses.

Contudo, o pior ainda estava para vir. Desta feita, foi no mar da China oriental que ocorreram novos conflitos. No último mês de Setembro, o governo nipónico anunciou a aquisição de três das cinco ilhas Senkaku, até então na posse de um japonês muito rico. Ora, o nacionalismo chinês atinge o cume quando se trata de problemas com o Japão. Não nos esqueçamos do massacre de Nanquim, ainda muito presente na memória colectiva chinesa, onde morreram mais de 200.000 chineses. Por isso, a sociedade chinesa reagiu intensamente e pressionou o governo para responder de forma firme ao Japão. Sem demoras, Pequim, para além de medidas punitivas do ponto de vista económico, ensaiou diversas manobras militares, traçando, oficialmente, uma linha fronteiriça a partir da qual as ilhas Senkaku ficam sob administração chinesa.

Seja qual for o destino deste conflito em particular, observa-se um alarmante crescimento dos nacionalismos e da corrida aos armamentos, tornando o mar da China numa região potencialmente conflituosa. Não é por acaso que o tabuleiro de xadrez norte-americano se virou, em detrimento do Atlântico – e, por consequência, das Lages, onde o contingente militar norte-americano será seriamente reduzido –, para o Pacífico.

Numa altura onde a Europa se vê deslocada para a periferia, não se vêem organizações internacionais com força suficiente para travar esta espiral de conflito. Uma coisa é certa: uma guerra na região do Pacífico, a acontecer, poder-se-á tornar numa terceira grande guerra.

Publicado no Letra1, em 29/01/2013

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