Numa planície verdejante atravessada por
um pequeno rio límpido, descansa uma mulher sentada num imenso colchão de erva,
olhando para a água a correr e a vida a passar. Leva a mão à cabeça e estende
os seus cabelos para trás ao mesmo tempo que deita o olhar sobre o céu. Nele,
vê as nuvens a passarem com a vida. Volta a pousar o olhar no rio, olha para a água
cristalina e absorve-a o mais que pode. Tenta absorver toda a sua pureza, quer
fazer parte da genuinidade daquilo que os seus olhos azuis vêem. Quer se sentir
no outro lado de lá da natureza.
Levantando-se calmamente, ao ritmo de
uma vagarosa brisa de ar fresco, aproxima-se do rio e ajoelha-se para o tocar e
sentir. Pousando delicadamente as mãos na face para se refrescar, fica a olhar
o seu reflexo que vai ficando cada vez mais nítido. Observa-se através do
espelho da natureza, admira a sua beleza e juventude, admira os seus olhos, a
sua boca, o seu nariz, os seus cabelos dourados, admira todos os seus traços
faciais.
Um momento de vaidade que lhe trouxe ao
pensamento a história de Narciso. Embora soubesse nadar, sabia muito bem a
moral daquela história ancestral, levantando por isso a cabeça e lançando o
olhar sobre a verde planície coberta de árvores que se erguiam dispersamente. Percebeu
que fazia parte de um mundo, que era parte integrante de tudo aquilo que a
rodeava. Era como uma daquelas árvores…
Senta-se com os pés a repousarem no rio,
observa o seu movimento contínuo e ouve os seus sussurros. Pensa se aquilo que
sente naquele momento será o mesmo que sentirá quando a juventude a tiver
abandonado, levando consigo a vaidade. Dá por si, mais uma vez, a antecipar o
futuro através de construções do passado. Então, percebe que é isso que a
impossibilita de ser uma árvore. Afinal, estamos do lado de cá porque contamos
o tempo.
2 comentários:
Mas este... (falta o adjectivo...fascista demagogo bufo etc ...está tudo louco?
a última pressupõe que o dito cujo se acha são...o que é perigoso
principalmente para os outres
movimento contínuo é uma efabulação
infantil de perpetuação e negação da morte
ou das evidências da vida
Deste orbe torpe ferino?
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