Disseram-nos que era
inevitável. Disseram-nos que, se não o fizéssemos, a sociedade iria ruir.
Disseram-nos que era a única forma de impedir a tragédia. Ou apertávamos o
cinto ou, por e simplesmente, desfalecíamos.
Agora aqui estamos, de
ossos esmigalhados por uma fivela que encontra sempre mais buracos para nos
fazer encolher, até, talvez, nos fazer desaparecer de vez. Agora, ao espreitar
pela janela, ao olhar para cada rosto cabisbaixo, ao sentir a pobreza
passear-se de forma triunfante pelas ruas, percebo que já estou perante uma
tragédia. Afinal, a inevitabilidade revelou-se o argumento do tirano. E não foi
sempre assim?
Este é um país onde
aqueles que lhe podem dar futuro estão, na sua maioria, no desemprego, às portas
da emigração ou para além delas, ou num qualquer trabalho remunerado à chinesa.
Este é um país onde aqueles que o endividaram, corromperam e violaram, estão,
na sua posse senhorial, a exigir que apertemos ainda mais o cinto – talvez por
acharem que somos seres invertebrados –, ou com belos empregos no estrangeiro,
em instituições responsáveis pela crise global, ou, ainda, a estudar em Paris.
A hipocrisia é tanta, a
falta de pudor tão aguda, que se torna difícil discernir o que está certo do
que está errado. A poeira que nos atiram diariamente para os olhos,
nomeadamente através dos média, faz-nos ficar confusos e atordoados – vivemos num
autêntico caos!
Enquanto massa humana
amorfa, teremos, necessariamente, que fazer alguma coisa. Viver sentado é muito
mais doloroso que morrer de pé. A História é a melhor candeia para nos guiar
nestes tempos obscuros, porque nos ensina o que os nossos antepassados fizeram
em momentos semelhantes. Através dela sabemos que, se nos subordinarmos, viveremos
até ao último dos nossos dias com uma coleira à volta do pescoço. Mas também
sabemos que, se nos erguermos, somos demasiados para que nos possam impedir de
viver com justiça.
E há mais uma coisa que
a História nos conta: o renascimento surgiu das trevas.
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