A barba começa por crescer, devagarinho.
Mas logo ali, momentos depois, uma nuvem de espesso nevoeiro branco assenta
sobre as suas, então, longas barbas. O movimento, esse, é o mesmo. Às voltas,
às voltas, às voltas, por vezes tonto perante uma vida que se precipita, por
vezes esmagado, imobilizado, perante a possibilidade de uma verdade que o
atormenta.
Roda
sobre si, como uma chave na fechadura, à espera de encontrar a verdade no outro
lado de lá. Gira, gira, gira tal como a terra, perpétuo movimento da beleza da
vida.
Depois, de repente, pára! Pelo menos,
pára para aquilo que a minha visão consegue ver, que o meu tacto consegue
sentir, que o meu nariz consegue cheirar, que os meus ouvidos conseguem ouvir.
Terá aberto a porta? Terá atravessado alguma fronteira imaterial? Enquanto
seres terrestres, nunca o saberemos.
O
que sabemos é que nos definimos como seres em busca. Em busca da satisfação de
necessidades básicas à semelhança dos nossos companheiros terrestres e em busca
do nosso conceito, a particularidade que nos diferencia. Sabemos também que haverá
sempre uma parte do nosso conceito por descobrir e, por isso, continuaremos a
rodar à volta na fechadura até ao momento da nossa morte.
Cada um, cada conceito. Porém, realce-se
uma questão fundamental: parte de todos os conceitos é comum, igual em si
mesma, caso contrário a condição humana não existiria. Assim sendo, o sucesso
para uma melhor compreensão do nosso conceito está dependente da socialização,
somos um animal gregário porque precisamos uns dos outros, não só para
sobreviver mas também para compreendermos melhor o nosso próprio conceito, para
que nos realizemos.
Quanto mais integrada for uma sociedade,
mais integrado se sentirá cada indivíduo com o espaço que o rodeia. Desta
forma, ao reconhecer-se na sociedade, o indivíduo poderá conhecer melhor o seu
próprio conceito.
Uma sociedade pautada por desigualdades
sociais, é uma sociedade de fortalezas físicas e psicológicas, na qual o
indivíduo não se reconhecerá. Um indivíduo que não se reconhece na sociedade
que integra não pode exercer a sua cidadania. Um indivíduo que não pode exercer
a sua cidadania é um indivíduo alienado daquilo que são os seus direitos e os
seus deveres. Por fim, um indivíduo alienado é um indivíduo que está mais longe
do respectivo conceito.
Ninguém se pode conhecer sem os outros,
pois é com eles que nos experimentamos.
Uma sociedade que aposta na aproximação
através do culto da tolerância das diferentes expressões do homem, é uma
sociedade que promove a realização de cada ser pensante.
A sociedade em que vivemos, longe de ser
um inferno, com expressões humanísticas relevantes, exagera no “fast-food”.
Reduz o debate sobre a sua (super) complexa organização a cálculos de um
conjunto de economistas e decide através dos cálculos de um grupo restrito do
conjunto de economistas. Se o dinheiro é quem mais ordena, e se o tempo é
dinheiro, não haverá tempo para debater seriamente a organização da nossa sociedade. Enquanto o dinheiro continuar a ser quem mais ordena, continuaremos entregues ao “fast-food”.
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