No mês de Agosto, a grande maioria das
pessoas afasta-se da realidade económica quotidiana, o que é perfeitamente
natural, até por questões de sanidade mental. Ainda assim, numa altura em que o
mês vai a meio, vale a pena deitar uma breve olhadela ao que se vai passando em
Portugal e na Europa.
Sector financeiro
Muitos bancos estão já a antecipar uma nova descida nas taxas de juro
praticadas pelo BCE, devido, entre outros motivos, às recentes declarações de
Mario Draghi. Assim, a Euribor, que actualmente está num dos níveis mais baixos
de sempre (0,75%), deverá descer ainda mais. Note-se que a Euribor a um mês
está a ser negociada a 0,13%, o que representa um valor muito baixo à
semelhança do que acontece com a Euribor a seis meses, muito utilizada como
indexante no crédito à habitação, que está a ser negociada a 0,65%.
Infelizmente, esta realidade não trás grandes vantagens aos portugueses
porque os spreads praticados pelos bancos atingem valores astronómicos, o que
afecta seriamente as famílias e as empresas. Ainda assim, as pessoas que tenham
créditos à habitação antigos beneficiam desta descida da Euribor porque gozam
de spreads com uma taxa comportável, ao contrário do que acontece com queira
contrair crédito nesta altura.
Também as taxas de juro relativas à dívida pública portuguesa continuam com
yields muito elevados a dez anos, rondando os 10 % .
Mercado petrolífero
O que vem pressionar mais o panorama negro que se vive
em Portugal e na Europa é o aumento do preço do barril de petróleo, que já
ultrapassou os 110 dólares em Londres, o que levará, muito provavelmente, ao
aumento do preço da gasolina e do gasóleo. Certamente, esta tendência de
aumento do preço do barril manter-se-á, uma vez que, por um lado, a
instabilidade que se vive no extremo oriente agrava-se a cada dia que passa, e
por outro lado, o furacão que passará pelo golfo do México trará consequências
negativas para a extracção petrolífera.
Política da energia
Finalmente, para enegrecer ainda mais o panorama (quando pensamos que as
coisas já não podem piorar afinal …), colocou-se nos últimos dias a
possibilidade do gás e da electricidade ficarem mais caros. A razão para isto
reside na medida que o Ministério da Economia está a ponderar aplicar para
reduzir as suas despesas. Esta medida traduz-se na passagem dos custos de
supervisão das concessões na área do gás e da electricidade para os
consumidores, ao contrário daquilo que hoje acontece, onde esses custos ficam a
cargo da Direcção Geral de Energia e Geologia.
Esta hipotética medida, a ser implementada, constitui mais um obstáculo que
o governo coloca aos portugueses, parecendo estar a testar até ao limite a sua
paciência. Acresce-se, ainda, o facto de esta medida contrariar o que a troika
pediu relativamente à necessidade de aumentar a competitividade dos custos de
energia portugueses. Parece que temos um governo mais troikista que a troika
quando se trata de penalizar a vida dos portugueses, mas quando se trata de os
beneficiar, o governo fica aquém da troika.
Publicado no jornal online "Letra1", em 14/08/2012
Publicado no jornal online "Letra1", em 14/08/2012