Onde estive? Que cidade era aquela? Quem será aquele homem sereno e brincalhão que me levou até ela? Acho que não lhe cheguei a perguntar o nome... lembro-me que se fazia acompanhar por um cão, sempre muito afectuoso e leal. Chamava-se perfora.Que engraçado, lembro-me do nome do cão mas não do nome daquele homem...
"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã." Victor Hugo
sexta-feira, 30 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
Verbum Die (VIII)
"Pode-se ficar alegre consigo mesmo durante certo tempo, mas a longo prazo a alegria tem de ser compartilhada por duas pessoas."
Henrik Ibsen, in "O Pequeno Eyolf"
Henrik Ibsen, in "O Pequeno Eyolf"
terça-feira, 27 de março de 2012
O respeito pela palavra
Observar a agressão sofrida pelas
palavras é angustiante. Perceber que o sentido que damos às palavras é
manipulado pela retórica de uns poucos ou de uns tantos, fere a nossa confiança
nas palavras. Sócrates bem se lamentava das consequências nefastas da acção dos
sofistas, contudo imprimiu indignação a essa lamentação e dessa indignação
resultou um combate firme que empreendeu durante toda a sua vida.
A palavra democracia, por exemplo, é
vilipendiada todos os dias, em todo o lado. Basta um país ter eleições, nalguns
simulando-as, para os respectivos líderes se armarem de legitimidade para executarem
determinadas políticas internas e externas, defendendo-se a todo o instante com
o escudo da legitimidade democrática. Obviamente, atribuo toda a importância ao
sufrágio universal, indispensável à prossecução do primado da maioria sobre a minoria.
Mas isso não significa que os consensos necessários ao bom funcionamento de uma
sociedade se pautem apenas pela consecução da vontade da maioria. Esta deve
procurar interiorizar uma lógia que reforce a sua condição e, consequentemente,
deve interiorizar princípios de tolerância para com as minorias e repugnar a
condenação da diferença. Deste modo, se as manifestações das identidades não
invadirem a liberdade umas das outras, se o que as une for o respeito, a
maioria sairá reforçada e espelhará maior diversidade.
Uma sociedade que se traduza numa
diversidade ordenada, ordenada no sentido da responsabilidade que a liberdade
acata e, por sua vez, responsabilidade no sentido do respeito pela liberdade de
outrem, é uma sociedade mais rica e estimulante. Defendo a defesa da expressão
de diferentes culturas com o mesmo entusiasmo que defendo uma sociedade que
represente a comunhão de diferentes expressões.
Através deste breve raciocínio, concluo
que a democracia em que vivemos está refém de uma tendência de isolamento das
maiorias. Os seus representantes, por detrás do escudo da legitimidade
democrática, tomam medidas que desprezam os juízos de valor das minorias. Mas o
mais grave não chega a ser isto. O mais grave é o modo como as maiorias se
formam. Existem vários instrumentos ao dispor dos políticos para alcançarem a
maioria nas eleições. Um dos principais instrumentos é a televisão, cujo acesso
está dependente do poder económico e mediático que cada campanha comporta. Assim, a televisão, sem descurar dos outros
suportes comunicacionais, como a rádio ou os jornais, assume um papel de
destaque para a formação da opinião pública e, por isso, para o resultado das
eleições.
É através destes suportes
comunicacionais que a retórica se torna num teatro a todo o momento. É através
destes suportes comunicacionais que as palavras são esvaziadas de sentido e que
os debates políticos bóiam sobre um imenso mar de subjectividade. Se as palavras
tivessem poder reactivo e agressivo perante quem as manipula e delas abusa, o
desconforto físico substituiria a sobranceria dos que vêem na eloquência uma
forma de enganar multidões.
A pior consequência do desgaste da
palavra "democracia" é a mentalização por parte da maioria de que a democracia
não lhe serve. E, como sabemos, o que não falta são candidatos a um poder
vitalício.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Verbum Die (VII)
O Vil Metal
Timão: Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! (...) Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente. Ó deuses!, por que isso? O que é isso, ó deuses? (...) [O ouro] arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo (...). Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade (...) eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.
William Shakespeare, in "Timão de Atenas"
Timão: Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! (...) Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente. Ó deuses!, por que isso? O que é isso, ó deuses? (...) [O ouro] arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo (...). Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade (...) eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.
domingo, 25 de março de 2012
Greve Geral
A Greve Geral do dia 22 de Março de 2012, ficará marcada pela violência desproporcionada protagonizada pela PSP. Uma vergonha, a relembrar os tempos da outra senhora.
quinta-feira, 22 de março de 2012
Verbum Die (VI)
Uma democracia de
verdade
Eu
acho que é preciso continuar a acreditar na democracia, mas numa democracia que
o seja de verdade.
Quando
eu digo que a democracia em que vivem as actuais sociedades deste mundo é uma
fálacia, não é para atacar a democracia, longe disso. É para dizer que isto a
que chamamos democracia não o é. E que, quando o for, aperceber-nos-emos da
diferença. Nós não podemos continuar a falar de democracia no plano puramente
formal. Isto é, que existem eleições, um parlamento, leis, etc. Pode haver um
funcionamento democrático das instituições de um país, mas eu falo de um
problema muito mais importante, que é o problema do poder. E o poder, mesmo que
seja uma trivialidade dizê-lo, não está nas instituições que elegemos. O poder
está noutro lugar.
José Saramago, in ´Lancelot (1997)
terça-feira, 20 de março de 2012
Em busca do conceito
A barba começa por crescer, devagarinho.
Mas logo ali, momentos depois, uma nuvem de espesso nevoeiro branco assenta
sobre as suas, então, longas barbas. O movimento, esse, é o mesmo. Às voltas,
às voltas, às voltas, por vezes tonto perante uma vida que se precipita, por
vezes esmagado, imobilizado, perante a possibilidade de uma verdade que o
atormenta.
Roda
sobre si, como uma chave na fechadura, à espera de encontrar a verdade no outro
lado de lá. Gira, gira, gira tal como a terra, perpétuo movimento da beleza da
vida.
Depois, de repente, pára! Pelo menos,
pára para aquilo que a minha visão consegue ver, que o meu tacto consegue
sentir, que o meu nariz consegue cheirar, que os meus ouvidos conseguem ouvir.
Terá aberto a porta? Terá atravessado alguma fronteira imaterial? Enquanto
seres terrestres, nunca o saberemos.
O
que sabemos é que nos definimos como seres em busca. Em busca da satisfação de
necessidades básicas à semelhança dos nossos companheiros terrestres e em busca
do nosso conceito, a particularidade que nos diferencia. Sabemos também que haverá
sempre uma parte do nosso conceito por descobrir e, por isso, continuaremos a
rodar à volta na fechadura até ao momento da nossa morte.
Cada um, cada conceito. Porém, realce-se
uma questão fundamental: parte de todos os conceitos é comum, igual em si
mesma, caso contrário a condição humana não existiria. Assim sendo, o sucesso
para uma melhor compreensão do nosso conceito está dependente da socialização,
somos um animal gregário porque precisamos uns dos outros, não só para
sobreviver mas também para compreendermos melhor o nosso próprio conceito, para
que nos realizemos.
Quanto mais integrada for uma sociedade,
mais integrado se sentirá cada indivíduo com o espaço que o rodeia. Desta
forma, ao reconhecer-se na sociedade, o indivíduo poderá conhecer melhor o seu
próprio conceito.
Uma sociedade pautada por desigualdades
sociais, é uma sociedade de fortalezas físicas e psicológicas, na qual o
indivíduo não se reconhecerá. Um indivíduo que não se reconhece na sociedade
que integra não pode exercer a sua cidadania. Um indivíduo que não pode exercer
a sua cidadania é um indivíduo alienado daquilo que são os seus direitos e os
seus deveres. Por fim, um indivíduo alienado é um indivíduo que está mais longe
do respectivo conceito.
Ninguém se pode conhecer sem os outros,
pois é com eles que nos experimentamos.
Uma sociedade que aposta na aproximação
através do culto da tolerância das diferentes expressões do homem, é uma
sociedade que promove a realização de cada ser pensante.
A sociedade em que vivemos, longe de ser
um inferno, com expressões humanísticas relevantes, exagera no “fast-food”.
Reduz o debate sobre a sua (super) complexa organização a cálculos de um
conjunto de economistas e decide através dos cálculos de um grupo restrito do
conjunto de economistas. Se o dinheiro é quem mais ordena, e se o tempo é
dinheiro, não haverá tempo para debater seriamente a organização da nossa sociedade. Enquanto o dinheiro continuar a ser quem mais ordena, continuaremos entregues ao “fast-food”.
domingo, 18 de março de 2012
Verbum Die (V)
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
sábado, 17 de março de 2012
A dívida pública
A dimensão da dívida que um país deve ter deve ser analisada através de um conjunto de factores, como os respectivos indicadores económicos e a estrutura da própria dívida, ou seja o nível dos juros, a origem do financiamento (interno ou externo), entre outros aspectos.
Numa análise comparada, no período de tempo compreendido entre a assinatura do tratado de Maastricht (1992) e o ano de 2005, a dívida pública portuguesa teve uma evolução semelhante à dívida pública alemã. Acrescenta-se, ainda, o facto de, durante este tempo, os níveis de endividamento de portugal ficarem continuamente abaixo dos 60%, como foi definido em Maastricht.
O nível de endividamento da economia nacional disparou com a adesão ao Euro e, em 2008, com a crise financeira global. Esta crise, ao trazer uma recessão económica, motivou o aumento do défice orçamental e, por consequência, o aumento da dívida pública. Esta tendência negativa foi altamente incentivada pela especulação financeira, responsável pelo aumento desmesurado dos custos de financiamento do Estado português.
Assim, o ano de 2008 marca verdadeiramente o início do pesadelo económico que se vive em Portugal. O abrandamento da economia, explicado em parte pela quebra nas exportações, trouxe uma quebra nas receitas fiscais e um aumento da despesa relacionada com os estabilizadores automáticos (mecanismos de protecção social como, por exemplo, o subsídio de desemprego). Esta evolução favorável ao aumento do défice foi, ainda, incentivada por decisões como a nacionalização do BPN (Banco Português de Negócios).
Para solucionar o problema, o governo português adopta, em sintonia com o pensamento dos actuais líderes europeus, a receita da austeridade, cortando nos serviços públicos, alterando a legislação laboral em prejuízo dos trabalhadores, entre outras medidas que atingem todos menos os inantigíveis, como António Mexia (Presidente do Conselho de Administração da EDP). Aliás, o empréstimo que a Troika (FMI, Comissão Europeia e BCE) fez a Portugal foi accionado pela adopção de um conjunto de medidas austeras que esta exigiu. Ora, estas medidas, ao prejudicarem a capacidade produtiva do país, aprofundam a recessão económica e, por isso, agravam o problema da dívida. Ressalve-se o facto de a Troika pretender que o "estado de graça" da EDP acabe, uma das poucas coisas positivas do seu ideário, mas o governo não parece inclinado a fazê-lo.
Como sabemos, o empréstimo da Troika está fixado em 78 mil milhões de euros, disponibilizados ao longo de quatro anos, os quais terão que ser devolvidos juntamente com a soma de 34,4 mil milhões de euros, correspondente aos juros. Sim, é verdade. Portugal terá que pagar só em juros e comissões quase metade do valor do empréstimo. A isto chama-se usura, mas adiante...
Segundo o governo e a Troika ou, a Troika e o governo, estas medidas permitirão que Portugal resolva o seu velho problema do desequilíbrio da balança comercial. Prevêem que as exportações aumentem 45%
face a um aumento de 4 % das importações. Não é preciso carregar o distintivo de Doutor para se perceber o irrealismo destas previsões. Primeiro, porque a UE, para onde se destinam a grande maioria das nossas exportações, está numa trajectória de contenção económica, segundo, porque se as exportações aumentassem 45%, as importações teriam de aumentar muito mais do que 4%, uma vez que o
valor acrescentado das nossas exportações está situado nos 40%, terceiro, porque nunca poderemos competir com países como a China em termos de custo do factor trabalho.
As previsões da Troika não devem ser levadas a sério. Veja-se o que aconteceu com a Grécia, onde todas as previsões da Troika caíram por terra, apesar do esforço e sofrimento do povo grego.
Tanto em Portugal, como na Grécia, como em muitos outros países, o serviço da dívida (montante da dívida destinado a pagar juros) tem aumentado muito, destruindo as possibilidades de estes países regressarem a uma performance económica positiva. Para esta triste situação, muito contribuiu a inércia do BCE e o comportamento fraudulento das Agência de Rating.
Ao não distinguir os ricos dos pobres, os remediados dos não remediados, os Antónios dos Pedros, a dívida pública contribui para o agravar da pobreza e das desigualdades. Em todo o mundo, o problema da dívida origina grandes problemas sociais, como se pode constatar através do sucedido com muitos dos países em vias de desenvolvimento.
A dívida pública merece ser debatida em toda a parte, urge analisá-la e transformar os seus processos. O sistema financeiro internacional tem que ser reformado, as promessas feitas pelos políticos, em 2008, para o fazer, têm que ser cumpridas, sob pena das crescentes desigualdades sociais originarem surtos de violência que se pensava fazerem parte da História.
Numa análise comparada, no período de tempo compreendido entre a assinatura do tratado de Maastricht (1992) e o ano de 2005, a dívida pública portuguesa teve uma evolução semelhante à dívida pública alemã. Acrescenta-se, ainda, o facto de, durante este tempo, os níveis de endividamento de portugal ficarem continuamente abaixo dos 60%, como foi definido em Maastricht.
O nível de endividamento da economia nacional disparou com a adesão ao Euro e, em 2008, com a crise financeira global. Esta crise, ao trazer uma recessão económica, motivou o aumento do défice orçamental e, por consequência, o aumento da dívida pública. Esta tendência negativa foi altamente incentivada pela especulação financeira, responsável pelo aumento desmesurado dos custos de financiamento do Estado português.
Assim, o ano de 2008 marca verdadeiramente o início do pesadelo económico que se vive em Portugal. O abrandamento da economia, explicado em parte pela quebra nas exportações, trouxe uma quebra nas receitas fiscais e um aumento da despesa relacionada com os estabilizadores automáticos (mecanismos de protecção social como, por exemplo, o subsídio de desemprego). Esta evolução favorável ao aumento do défice foi, ainda, incentivada por decisões como a nacionalização do BPN (Banco Português de Negócios).
Para solucionar o problema, o governo português adopta, em sintonia com o pensamento dos actuais líderes europeus, a receita da austeridade, cortando nos serviços públicos, alterando a legislação laboral em prejuízo dos trabalhadores, entre outras medidas que atingem todos menos os inantigíveis, como António Mexia (Presidente do Conselho de Administração da EDP). Aliás, o empréstimo que a Troika (FMI, Comissão Europeia e BCE) fez a Portugal foi accionado pela adopção de um conjunto de medidas austeras que esta exigiu. Ora, estas medidas, ao prejudicarem a capacidade produtiva do país, aprofundam a recessão económica e, por isso, agravam o problema da dívida. Ressalve-se o facto de a Troika pretender que o "estado de graça" da EDP acabe, uma das poucas coisas positivas do seu ideário, mas o governo não parece inclinado a fazê-lo.
Como sabemos, o empréstimo da Troika está fixado em 78 mil milhões de euros, disponibilizados ao longo de quatro anos, os quais terão que ser devolvidos juntamente com a soma de 34,4 mil milhões de euros, correspondente aos juros. Sim, é verdade. Portugal terá que pagar só em juros e comissões quase metade do valor do empréstimo. A isto chama-se usura, mas adiante...
Segundo o governo e a Troika ou, a Troika e o governo, estas medidas permitirão que Portugal resolva o seu velho problema do desequilíbrio da balança comercial. Prevêem que as exportações aumentem 45%
face a um aumento de 4 % das importações. Não é preciso carregar o distintivo de Doutor para se perceber o irrealismo destas previsões. Primeiro, porque a UE, para onde se destinam a grande maioria das nossas exportações, está numa trajectória de contenção económica, segundo, porque se as exportações aumentassem 45%, as importações teriam de aumentar muito mais do que 4%, uma vez que o
valor acrescentado das nossas exportações está situado nos 40%, terceiro, porque nunca poderemos competir com países como a China em termos de custo do factor trabalho.
As previsões da Troika não devem ser levadas a sério. Veja-se o que aconteceu com a Grécia, onde todas as previsões da Troika caíram por terra, apesar do esforço e sofrimento do povo grego.
Tanto em Portugal, como na Grécia, como em muitos outros países, o serviço da dívida (montante da dívida destinado a pagar juros) tem aumentado muito, destruindo as possibilidades de estes países regressarem a uma performance económica positiva. Para esta triste situação, muito contribuiu a inércia do BCE e o comportamento fraudulento das Agência de Rating.
Ao não distinguir os ricos dos pobres, os remediados dos não remediados, os Antónios dos Pedros, a dívida pública contribui para o agravar da pobreza e das desigualdades. Em todo o mundo, o problema da dívida origina grandes problemas sociais, como se pode constatar através do sucedido com muitos dos países em vias de desenvolvimento.
A dívida pública merece ser debatida em toda a parte, urge analisá-la e transformar os seus processos. O sistema financeiro internacional tem que ser reformado, as promessas feitas pelos políticos, em 2008, para o fazer, têm que ser cumpridas, sob pena das crescentes desigualdades sociais originarem surtos de violência que se pensava fazerem parte da História.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Verbum Die (IV)
"É preciso viver com os pés na terra e a cabeça no céu. Isto é, ser realista sem perder o ideal. Aliás, um ideal - e não um idealismo - é uma meta concreta, possível, onde se pretende chegar. Por isso, a primeira coisa que a pessoa de ideais tem a fazer é conhecer muito bem a sua realidade. Só conhecendo e amando essa realidade, saberá fazê-la crescer e purificá-la do que não é ideal."
Pe. Vasco Pinto de Magalhães in "Não há soluções, Há Caminhos"
quinta-feira, 15 de março de 2012
Verbum Die (III)
"Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade." Santo Agostinho
quarta-feira, 14 de março de 2012
terça-feira, 13 de março de 2012
Verbum Die (II)
"Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um acto revolucionário" George Orwell
Sintomático
Henrique Gomes, Secretário de Estado incumbido de gerir a pasta da electricidade, demitiu-se. Procurar alterar o estado de graça da EDP, cujos lucros se podem considerar obscenos, valeu-lhe a oposição de uns tubarões nacionais, António Mexia, e internacionais, chineses da Three Gorges. Fica para a história como um homem corajoso que integrou um governo cobarde.
É uma saída de alguém que não se quis sujar, intensificando-se o odor a podre desta coligação governamental PSD/PP.
Álvaro Santos Pereira, o ministro da economia, perdeu uma peça fundamental mas ganhou um lição de integridade e dignidade. Se aprendeu? Veremos, mas duvido.
Verbum Die (I)
Os Vendilhões do Templo
Deus disse: faz todo o bem
Neste mundo, e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém
Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.
Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.
E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p'los outros que por nós.
Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.
E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo — o bom doutrinário.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Deus disse: faz todo o bem
Neste mundo, e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém
Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.
Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.
E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p'los outros que por nós.
Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.
E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo — o bom doutrinário.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
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